18/08/2010

As impossíveis, apetitosas peras



As peras da fruteira não têm a sua cor natural: nunca vi (senão aqui) formas de fruta pera com tanta cor de pêssego maduro madurinho, de pelo raso a estalar de sumo!

A criança que uma colheu, não come. Sente primeiro o sabor com as mãos, cheirá-la-á depois e, antes da estreante dentada forte, há-de pesá-la, atirando-a de uma palma à outra da mão.

Conhecem muito melhor os frutos, as crianças - não questionam a bizarra e invulgar cor: sentem-nos e pronto, sabem o que é!


Algo a distrai do lado de fora do quadro : terá a mãe chamado? Terá o gato entrado? Terá o vento assobiado?

Ignaros nós, que a vemos, e nunca saberemos por que razão se distraiu ela da sua pera nem tão pouco por que razão sabem elas tanto a pêssego maduro madurinho ao pintor que as recriou com cores tais.

Ignaros nós, que vemos pêssegos de uma só específica cor e peras na sua específica forma.

Ah, menina, que vontade de ser parte desse mundo que habitas, ser linha ou cor (tanto faz) e causar espanto por ser ao contrário ou diferente do suposto!

Ah, menina, que vontade de ser a causa da tua distracção, de te conhecer e de contigo lanchar as impossíveis peras que casualmente seguras entre mãos!

13/08/2010


O ornamentado chapéu de bicos deste “Portrait de femme” de Picasso não protege do sol ou do calor,não.

Grande e pomposo, o chapéu distingue esta mulher sentada das demais: atrai a sua luz, distrai do seu olhar vivo, arruiva o seu cabelo solto e combina com o complicado soutien que lhe sustém os dinâmicos e jovens seios.

A mulher está sentada e parada... mas tudo nela é movimento musical e gracioso.

Nesta relação de opostos, mais que a beleza parada e luz viva da femme fatale, espicaça-se a curiosidade que se solta das teias de aranha que lhe pregam o nariz ao chapéu, prende-se a visão nas suas potentes narinas taurinas que inspiram fortes colunas d’ar, entristece os lábios de sorriso descolorido e a orelha de tigela a qual, atenta ao exterior, capta a esperança de uma chegada.

Feita, tal como todos nós, de paragens andantes, a deslumbrante figura espera sabe-se lá o quê, sentada numa cadeira que Picasso tirou sabe-se lá de onde, para que nela desgraçadamente nos encantasse, sabe-se lá porquê!

Bb***

27/07/2010

Os ovos!


De Outubro a finais de Julho do ano seguinte, vão mais que muitos meses.
Há que ver que sem parar o planeta rodou sobre si na infindável rota gravitacional em redor do deus Sol, há que sentir os ventos que passaram, as luas que luaram, os pássaros que migraram, as maravilhosamente bem concebidas moscas que estupidamente persistem em existir, picando o que é doce tão airosamente como o que é malcheiroso.

E entretanto, a cirurgia, entretanto o desalento e a falta de ânimo, entretanto a condição defunta deste meu blogue, que foi (tal como eu) já muito mais do que agora é.

No entanto, e apesar de tudo, ele faz falta. Assim como um buraquinho vazio que se instala e que incomoda por não ser.

Assim recomeça pois uma nova fase: os ovos foram postos! Agora, de cada um deles, vida nascerá, desde que haja calor, desde que não sejam pisados.

Sem parar, o planeta rodou sobre si na infindável rota gravitacional em redor do deus Sol, e eu também!



09/10/2009

Se verdade nos olhos, lua em casa campestre!


Não mais os olhos lidos serão desculpados em disfarces vãos!
Nesta casa (agora que lar é) prima-se o ser: lava-se a cara e as mãos, dia-a-dia!

Não mais olhos nos olhos lidos serão outra coisa senão verdade.
Ou então, não mais olhos nos olhos serão.

Bábá

08/10/2009

* um presente.


para si,
um presente.
Um casa limpa,
uma casa nova,
uma casa fresca
uma casa só nossa.
Choverá pois no campo.
Em si,
em nós,
nos nossos.
um beijo técnico.
sonjo

07/10/2009

Quatro Etapas e um Desejo* : o voo no Verde!


Que não esmoreça o Meu dos Dias, não!

Retratar 4 etapas seleccionadas de um outro é sabê-lo profundamente. É uma honra, e sem dúvida um privilégio, receber prenda tal, e eu explico: se me reconheço nas etapas espelhadas da obra, então sei que em loja alguma, em nula parte anteviria sequer o meu ser que houve (etapas 1 e 2) , o ser que há (etapas 3 e 4) e muito menos o Desejo (o ser a ser) inspirador e a mim mesmo prometido como projecto de vida, nunca mais como antes pensado isoladamente!

Que não esmoreça o Chevalier, que a sombra esborratada é ele comigo e por isso somos nós, no branco semi-translúcido do verde dos campos, percorrendo até à fonte uma vereda como quando em crianças o faziamos no vertiginoso voo do escorrega-montanha!

E se duvidar do que aqui é afirmado, então é porque não viu o que eu vi, então é porque insiste em olhar para si, sem reparar que os meus olhos castanhos ficaram mais lustrosos deste sonho verde!

Obrigada, é para mim uma honra tê-lo junto à janela deste meu Rio, é uma honra tê-lo a si junto a mim no ser-a-ser!
***

06/10/2009

Carta aberta : Lú


Seixal, 6 de Outubro de 2009

Hoje apeteceu-me ir ao correio ... Deus sabe que levo dias seguidos sem sequer me lembrar da sua existência.
Mas aquela caixa guardava hoje, em si, uma pequena maravilha que me emocionou pela surpresa que escondia, pela verdade que revelava!
Hoje recebi uma carta tua, minha amiga, e garanto-te que foi direitinha ao meu coração!

Como te poderei explicar o efeito produzido? Não o conseguirei fazer... no entanto, quero que saibas que este rio, que ao mesmo tempo vos acolhe na sombra dos ramos verdes, galgou mais forte e firme, alimentado que foi pelas palavras d'ouro que só a amizade é capaz de nos ditar com a simplicidade do sentimento puro.

Que sempre neste rio encontrem porto e abrigo, que sempre nestes ramos se abriguem no Verão, que sempre nos reconheçamos quando estamos, é o desejo mais profundo do meu ser!

Querida amiga, amigos queridos meus, vós sois a força motriz que faz de mim rio, árvore, sombra e mar!

A ti é dirigida a carta (molhada, confesso, da comoção sensibilizada que não se conteve) mas a todos vós é de igual modo dirigida a mensagem.

Muito Obrigada a ti e a ti e a ti e a ti, a tu , a ti, por mim!

18/09/2009

Do fundo dos mares, à tona da água!


Porque o abraço foi dado, e desculpas a meias foram dadas com o coração!

Ao dos dias (que sempre me apressa, sempre sempre), a dádiva da respiração da tona d'água!

***



16/09/2009

Porque "il"


Até breve!

Insólito, Curioso, inexplicável, inconfundível e improvável luto!


Insólita a figura, a relação e a (in)dependência dos afectos!
Curioso o caso e o acaso, o destino, o caminho de ladeiras e clareiras, de rios e campos!
Inexplicável a experiência que juntos nos afasta.
Inconfundível criatividade na alma gémea das figuras desenhadas.
Improvável o perfil psicológico que atiça as falas da arraia miúda.
Luto antecipado na Vida, proximidade única na liberdade requerida no amor!

Despedida na chegada, saudade na presença, sapatos abotinados no cume de um corpo feito de contrastes.

Um abraço, Bb*

09/08/2009

Nú habitado!


Estar nú é exposição constrangedora!
Mas só na nudez há intimidade, beleza e verdade!

A fotografia desta bela mulher é palmas de mão que afagam, é registo de corpo místico, ideia e inspiração de uma visão de comunhão espiritual (é quando a carne se torna espírito, que o milagre acontece!)

Estar nú é saber-se quem se é e assim, tal e qual, mostrá-lo aos que nos habitam.

Bj, Bb***