Dominguice
A Bela e o ranholas tomaram na esplanada café, nessa tarde domingueira, sob o limoeiro! “Parecem maminhas, os limões...” – Disse Bela enquanto pagava os cafés, a água de castello, claro está, e o maço de tabaco a partilhar.
Partilhavam muito de tudo, Bela e Ranholas. Assoaram-se e coçaram os cantos do olho que não escreve -tinham ainda uma ou duas resistentes ramelas.
Recém ressacados de crise pessoal, acalmam a pele que recebe o sol morno da esplanada vermelha. Ranholas endireita as folhas recolhidas de um cacto que pedia sol e Bela assomou-se à mesa para ler o que escrevia, enquanto alisava o seu novo cabelo, oferecido na véspera por ranholas, mas só agora agradecido. Não a julgue ingrata, fê-lo quando o sentiu.
Do Fidalgo, nem sinal! Ao longe, ouvia-se um ganido preocupante. Pensámos “Fidalgo? Nah!”
As palavras ainda não orquestravam bem o raciocínio e as letras assemelhavam-se a escrita árabe. O barulho dos carros que passavam transformara este ambiente (outrora campestre e sacro) numa natural melodia de pássaros, gazelas e gemidos de frades - Pinhal de frades. O barulho dos carros é o que resta do marulho das ondas do mar, agora longe dos homens.
Ranholas passou a linha da queixada pela suave mão de Bela, abrasando-a um pouco: “Ai!” – Disse Bela. –“ Tens que fazer a barba, cara de lixa!”
Lá porque se acabou a folha, não se finda aqui o relato. Está finta a imaginação.
O espírito académico de Bela forçou-a a sair do timbre de escrita e parar para reler o expresso até aqui.
Relemos o texto…
Afasiámos um pouco, para depois retomar fôlego e relatar dizeres sobre os pequenos nadas de domingo. As miúdas passavam a tarde com o pai e o Madeira voltava-se ainda na cama, o sacana!
Com as casas por arrumar e o trabalho por fazer, não se preocupavam os esplanantes que desfrutavam de amargos cigarros e café com cheirinho.
“Dois “embaraçados” galões”- pediram dois pares de bigodes que povoaram toda a esplanada, com preconceito, a milhas da percepção dos relatantes. Como duas brancas pérolas brilhando ao sol, brilhavam as meias em pretos sapatos e calça de vinco, expressando todo o marginal preconceito. Grisalhos os cabelos, aferindo mais tempo que o suposto, graçolice genética.
“Atmosferas”- lembrou Ranholas! Com um gesto vaidoso, ostentou Bela os apliques novos dos seus coiratos. Sobriamente enfeitada, Bela possuía três quentes pontos:
*”as orelhinhas d’oiro”;
*”o adornado gargalo elevatório da cabeça”;
*”o pulso escrevente”.
Nessa tarde, Bela voltara!
E Ranholas perderia o título, após domésticos lavoures.
“As collants!” – lembrou Bela.
Levantaram-se e rumaram ao bazar.
Txu!
Babú e sonjo
1 comentário:
caramba que a senhora escreve mm bem :) *
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