Fido

Fido, o das asinhas que não avoam mais do que um minuto, esborrachou-se na plataforma de cimento, mesmo ao lado (e não em cima) da sua tigela vegetariana.
Apesar do baço se lhe ter rebentado e escorrido pela bocarra de dentes firmes, Fido está contente! O seu olhar perde-se, lânguido e sonhador, na imagem da sua amada que só em sonhos ou em delírio antevê, numa bola de fumo que a torna difusa e imprecisa .
Breve é o estado de graça! Já já despertará do limbo, estado de semi-cá semi-lá, já já despertará do curto momento em que, ainda que de forma delirante, difusa e imprecisa, a sua amada está ali e não noutro lado.

Lamber-se-á, gemerá e depois, afundado em triste consciência, comerá a sua cenoura.