16/02/2009

CONVITE ***


O lindo, lindo quadro de Chagall comove-me.
Para além da expressão metafísica deste amor entre o homem que bóia como leve pena para a face desta mulher de flores na mão, para além da compulsão que se sente na vontade de também ir, impressiona a concreta e objectiva realidade do espaço envolvente!
Desde o pequeno banco preto, à esquina que se espreita da rua, desde a bancada da cozinha, aos pés da cama (não "A" cama, mas tão somente os seus pés) e ainda a pequena parede de mármore ao fundo, ao fundo, mas à frente de uma janela que tapa a outra que por trás existe.
E depois a bolsa, o relógio (será espelho?), o padrão da colcha e da tapeçaria , e os telhados e Ela, graciosa em cima dos seus sapatinhos de taco alto, de renda branca a encimar-lhe o vestido, de flores (ai o cheiro, ai a mistura delas, ai a graça do molho nos olhos meus) presas pela mão solitária do único braço que tem...

Tudo neste quadro me prende e fascina, como (parafraseando) Lux!
Porque a vida é difícil mas tão bela,
porque as bicas sabem sempre tanto a flores,
porque apesar da tosse,
da rouquidão,
do cansaço,
da solidão,
da exaustão,
da injustiça e da podridão
e porque apesar disto tudo e muito mais
existe este quadro ,
convido-o , exaurido amigo meu dos dias, a sentar-se a meu lado e, sem ter que muito ou nada dizer, pura e simplesmente se delicie com os sentidos e admire a vida através de Chagall, meio difuso por entre o fumo dos cigarros que fumaremos, enquanto bebemos um café quente na esplanada vazia.

1 comentário:

sonjo disse...

Não fosse a verdade tão verdadeira, tão prevista tão assertiva. não seria pois mais que a luz que desconhece que tem, pura e intensa. sonjilluminati